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A Minha Interpretação Pessoal de “Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio” de Ricardo Reis

De todos os heterónimos, talvez o meu favorito seja o Ricardo Reis. Sempre admirei o estoicismo e o epicurismo, por isso não é de estranhar que também admire a poesia deste heterónimo porque, como todos aprendemos no nosso ensino secundário, os grandes temas que percorrem os seus versos são justamente aliados a essas correntes filosóficas. Encontramos uma serena aceitação do destino tal como ele é, para o bem e para o mal, uma plena adaptação ao mundo perante as constantes frustrações que sentimos quando o mundo não se adapta a nós, e uma compreensão e aceitação dos limites humanos, tudo isto para que alcancemos uma vida calma, mesmo que a morte não esteja longe. Para Ricardo Reis, assim como para Epicuro, o medo da morte é absurdo porque simplesmente não existiremos para sofrer a morte. Porque ou existimos nós ou existe a morte, nunca existem ambos em simultâneo. Então só podemos sofrer em vida, aliás, é só em vida que sofremos porque é só em vida que sentimos. Assim, o problema do sentir está aqui tão presente como na poesia dos outros heterónimos, só que em vez de tentar sentir tudo e ficar depois exausto como o Campos, ou em vez de sentir a natureza livremente e com uma simplicidade quase infantil como o Caeiro, e até em vez de ser incapaz de sentir de todo como o próprio Fernando Pessoa, Reis opta antes pela neutralidade. É aquela mesma aritmética, aquela lógica que nos diz que se o preço das grandes paixões é grandes desgostos então mais vale não ter nada.

Durante muito tempo identifiquei-me com esta filosofia, e de certa forma ainda a considero inteiramente racional. Para a maioria das coisas no mundo mais vale não as ter do que viver com a constante preocupação de as perder. Viver em oposição a este estoicismo parece gerar um materialismo excessivo e compulsivo, uma obsessão com ter, organizar e manter. Talvez para isso o melhor seja mesmo não ter nada, talvez o melhor seja pedir emprestado... Mas de que coisas é que estamos a falar? Qual é a sua natureza? Estamos a falar de coisas físicas e materiais ou não? Ou será que é impossível neste estoicismo falar de algo não-material? E independentemente de todas essas questões, a que ponto é que ao reduzir o que há na vida de uma pessoa, a vida deixa de ter sentido?

Enfim... Como com as outras interpretações de poemas, também folhei pelo meu livro cheio de sublinhados e símbolos a marcar os meus favoritos, mas com este livro isso foi mais uma formalidade porque eu já sabia que queria escrever sobre este poema antes de sequer abrir o livro. Tanto quanto sei este poema parece bastante famoso, talvez o mais icónico de todos nos quais o poeta se refere à sua Lídia. É também um poema do qual ainda me lembrava, não tanto dos seus detalhes mas sim da paisagem que conjura, com o rio e as flores. Porque se os versos de Caeiro são sensações, e se os versos de Campos são golpes, então os versos de Reis são pinturas.

“Contemplation on the Riverbank” de Adrien Moreau

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
   (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
   Mais longe que os deuses.

Este poema abre com um convite. O poeta apela à sua musa, Lídia, a mais famosa das musas de Ricardo Reis, que vá com ele à beira do rio, o rio sendo então uma metáfora para o curso da vida, feito imparável pelo passar do tempo. Porque é impossível mudar o curso do rio, somos impotentes para alterar a sua nascente, o seu correr e a sua foz. Não importa quantas pedras atiremos ao rio ou quanta força em direção oposta façamos com os braços, o curso do rio tem sempre a sua teleologia, a água parece ter vida própria, a água do rio submete-se completamente ao destino. E o poeta procura uma submissão semelhante, pois o convite à musa não é para desafiar o curso do rio, é para simplesmente o admirar. E admirando-o aprende-se que a vida passa e o tempo não espera. Em resposta a isso não há nada a fazer exceto enlaçar as mãos num gesto simbólico de hedonismo, mas sempre em moderação.

Na segunda estrofe a metáfora do rio é aprofundada. A água corre para sempre até chegar ao mar, presumivelmente a morte metafórica da vida. Porque todos começamos na nascente, somos levados à deriva pelo curso do rio, e quando chegamos ao seu fim, deixamos de ser rio. E este mar onde o curso do rio finda supera até os deuses que, talvez de acordo com o paganismo do poeta, não estão além da morte. É uma característica inerente ao panteão grego, esta idiossincrasia segundo a qual os grandes conflitos no Olimpo se remetem ao facto de que os seus vários deuses detêm uma condição decididamente humana, cheios de invejas e ambições e ira. E então podem não morrer mas, sendo humanos, demasiado humanos, também não superam a morte. Reis parece defender assim um paganismo segundo o qual o destino, ou a própria morte, são o deus supremo. Parece ser um pessimismo floreado, um reconhecimento da morte como a única certeza, mas com uma certa tendência a dizê-lo apenas por palavras bonitas.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
   E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
   E sempre iria ter ao mar.

No início desta estrofe o poeta arrepende-se de estar de mãos dadas com a sua musa. Até isso é para ele uma sensação demasiado intensa, é cansativo e não pode dar em nada de bom porque no fim, quando o rio chegar ao mar, vai dar tudo ao mesmo nada. Para o poeta mais vale viver em silêncio, mais vale imitar o rio com a sua obediência serena às leis do mundo. A natureza do rio é correr até ao mar e é só isso que ele faz, com calma e ordem e silêncio, tudo qualidades que os seres humanos, pela sua natureza, são incapazes de cumprir. Mas o poeta obriga-se a cumprir e por isso é que desenlaça as mãos.

A negação dos prazeres não é uma mera negação no sentido mais imediato. Recusar-se aos prazeres do mundo mas fantasiá-los constantemente não seria muito melhor. Porque a obsessão continuaria e o tumulto seria talvez menos intenso no corpo mas seria intenso na alma. Por isso o poeta rejeita amores, ódios, paixões e invejas, tudo qualidades que atormentam os próprios deuses, aqueles que mesmo que livres da morte estão ainda sujeitos aos seus desassossegos. O rio é que é verdadeiramente livre, o rio faz o que tem a fazer e fá-lo com dignidade, sem paixões intensas ou declarações de amor ridículas, sem tristezas ou melancolias absurdas. Mais do que sentir a natureza, mais do que sentir-se parte da natureza, o melhor é imitar a natureza. Reis parece aceitar a condição humana como nascida da natureza mas vê-a como se a tivesse superado, como se nos tivéssemos tornado demasiado humanos. A sua solução parece ser então um regresso, talvez haja um elemento do divino na natureza, talvez para Reis sermos deuses seja obedecermos à natureza nas suas leis mais simples.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
   Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento –
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
   Pagãos inocentes da decadência.

O poeta procura aqui um meio-termo. As paixões tresloucadas são precisamente isso, tresloucadas, mesmo que não o sejam num momento sê-lo-ão noutro certamente. Mas por outro lado, a ausência de qualquer paixão é a dormência, é um eterno nada, é uma apatia doente segundo a qual nem reconhecemos a nossa própria existência, uma apatia à Livro do Desassossego. O meio-termo é então a paixão mas em tranquilidade, é uma espécie de distanciamento deliberado da sua musa, uma recusa consciente da sua própria condição humana que, desimpedida, levaria inevitavelmente à tempestade. Mas isso não é necessariamente uma prisão... O poeta considera-se ainda livre, a verdadeira liberdade em Reis não seria a capacidade de fazer o que se quer, seria uma liberdade estoica que implica o controlo das suas próprias emoções e vontades. Então o poeta conhece os seus limites, domina-se e contenta-se com uma calma apreciação do rio, não numa sensação verdadeira como em Caeiro, mas sim uma apreciação quase racional da natureza.

O poeta e musa entretêm-se a colher flores, e ela, num gesto verdadeiramente digno de um quadro, segura-as ao colo. Até o perfume de uma flor deve ser sentido só de passagem, pairando sobre um momento para que o seu aroma nos chegue aos sentidos esporadicamente, nunca em excesso mas sim sempre ao de leve, em perfeita e muito delicada moderação. Nem seria recomendado que guardassem as flores depois do anoitecer porque as flores não trariam mais do que a memória daquele momento, ou talvez nem isso sequer, e iriam inevitavelmente morrer também. Mesmo que fossem conservadas pela ciência já não seriam as mesmas, ou se o poeta as pintasse, a pintura não teria o mesmo perfume. Mais vale aproveitar enquanto se tem e não tentar guardar nada para além do seu tempo... Tal como não se impede o curso do rio também não se impede o fim de um momento.

E tudo isto resulta num momento verdadeiramente sossegado, uma paz real, uma serenidade porventura invejável. O poeta e a musa não são consumidos pelas suas emoções, não se deixam sucumbir pelo desassossego, nem sequer têm crenças ou interesses naquele momento, nem tão-pouco um pelo outro. Estão em pleno controlo e estar em controlo é ser inocente.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
   Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-rio,
   Pagã triste e com flores no regaço.

Se as flores hão de perder o seu perfume, se hão de murchar, se o rio há de chegar ao mar, se aquele dia há de acabar, então também o poeta e a musa hão de morrer. Se ele morrer primeiro então ela não ficará triste porque a sensação daquele momento foi tão leve que não lhe ficará na memória com qualquer intensidade. Assim, num futuro dia saudoso, a memória não será relembrada com qualquer inquietação. A recusa às emoções intensas foi feita deliberadamente para a proteção de ambos, para que a memória daquele dia não doa como é coisa tão comum das memórias. Tanto o poeta como a musa, na sua paixão, mantiveram-se inocentes, e assim não perderam nada... O death, where is thy sting?...

Por outro lado, se a Lídia morrer primeiro e tiver de partir para o submundo sem o poeta, ele também não sofrerá com isso, terá o suficiente para que se lembre dela sem que essa lembrança lhe chegue à memória em dor e desconforto. A memória dela será perfeitamente suave, um adjetivo recorrente na poesia de Reis, tanto em verso como em interpretação, um adjetivo que soa bem quando aplicado a muitas sensações físicas, mas a sensações da alma?... Uma sensação da alma descrita como suave não parece ser mais do que a mais pura das neutralidades, justamente aquilo que Reis quer alcançar. Então ele fica apenas com a memória da sua musa distante, à beira-rio, depois de uma tarde a colher flores e a deixar que o tempo passasse em silêncio, como um quadro em movimento...

Talvez a poesia de Reis seja então a mais esteticamente bela de todos os outros Pessoas, talvez seja a mais cuidada e organizada, sendo isso um reflexo da natureza metódica do poeta, talvez até seja a poesia pessoana mais aprofundada com as suas temáticas estoicas, epicuristas e pagãs. E em muitos aspetos é até a mais racional. Porque ser tão simples e feliz como Caeiro é coisa que se conseguimos só conseguimos por um dia, e ser tão intenso como Campos não é expediente uma vez que acabaremos na mesma exaustão que ele. Mas viver tentando reduzir os prazeres, tentando minimizar as causas de inquietação na nossa vida, quaisquer que elas sejam? Isso parece mais alcançável, em muitos aspetos até parece desejável... Mas será mesmo? Será que o Ricardo Reis conseguiria abdicar da sua Lídia se ela fosse uma mulher real? Será que ele não ficaria incomodado com a ausência dela, ou até com a ausência do sol num dia de chuva que era suposto ser de sol? A constante fuga à condição humana parece causa de tanta inquietação como as misérias da condição humana.

E se os fragmentos do estoicismo e epicurismo inerentes à filosofia de Reis estiverem errados? E se a morte não for real? A ideia de o rio chegar ao mar parece ser uma metáfora para o fim da vida, mas e se o mar for uma nova vida? Se nascemos num dia, num momento, porque é que não poderemos nascer num outro dia, num outro momento? E se a consciência, sobre a qual na nossa modernidade parecemos falar como se fala de alma, for mais do que meramente física?... Eu não sei, só pergunto sem eu próprio saber as respostas. Mas de todas as grandes vantagens e virtudes do estoicismo, uma das críticas que lhe faria é de que, se o pessimismo no qual se baseia é verdade, então o estoicismo só serve para o minimizar. Isso é uma crítica fraca porque talvez minimizar as inquietações seja mesmo o melhor que se pode esperar da vida. Mas e se não for?... E se não beijar aquela musa naquele dia perfeito for o maior arrependimento da vida do poeta? E se a total ausência de inquietações for em si mesma uma grande inquietação?

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