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Showing posts with the label Fernando Pessoa

A Minha Interpretação Pessoal do Trecho 397 do “Livro do Desassossego” de Bernardo Soares

Fim, ou pelo menos é assim que me parece agora, porque na verdade o fim é só um. No entanto sempre pensei por ciclos, e neste sentido acabar agora esta série de cinco artigos sobre o Fernando Pessoa, que na verdade é a terceira série de cinco neste blogue, leva-me agora a concluir que terminei uma fase da minha vida, a partir da qual há de começar uma nova. Mas não sei como é que isso faz sentido exceto que não consigo deixar de pensar assim. Por exemplo, quando eu estava no sexto ano de escola, no último dia de aulas decidi gastar todo o dinheiro que tinha no cartão eletrónico, precisamente por ser o último dia pensei, que diferença faz? Mas depois de três breves meses de verão voltei à escola e encontrei os mesmos dois ou três cêntimos ali guardados, e encontrei uma nova necessidade de carregar o cartão, uma necessidade que eu não teria caso não tivesse gastado tudo só por gastar... Enfim, porque é que digo isto? Em parte porque tal como disse antes estou cansado de introduções para...

A Minha Interpretação Pessoal de “Uma Após Uma as Ondas Apressadas” de Ricardo Reis

É sempre um bocadinho estranho pensar em Ricardo Reis logo a seguir a Álvaro de Campos, mas foi essa a ordem que escolhi há já muito tempo e é nessa ordem que agora continuo. É estranho porque implica passar de um poeta tão aceso e aleatório para um poeta sóbrio e calmo, mas também por outro lado talvez isso faz algum sentido como uma pausa antes de passar para o Livro do Desassossego. E quanto a este Reis em si também ele foi o meu heterónimo favorito porque em tempos foram todos, acho que sempre alternei constantemente. O motivo para favorecer Reis foi o seu estoicismo e epicurismo, duas correntes filosóficas que aprovei e que tentei adotar relativamente cedo no meu percurso filosófico, se é que a palavra ainda se aplica ou alguma vez se aplicou... Só que hoje em dia já não sei, acho que ironicamente até o estoicismo tem qualquer coisa de estranho, como que uma aceitação tácita do pessimismo, mas hei de escrever mais sobre isso qualquer dia. Por agora ocorre-me apenas uma coisa, qu...

A Minha Interpretação Pessoal de “Acordo de Noite” de Álvaro de Campos

Não me apetece escrever isto, não, por qualquer motivo não me apetece mesmo nada escrever isto... Mas devia-me apetecer porque este heterónimo é o mais interessante ou talvez o meu favorito, se bem que eu próprio seja muito inconsistente em relação a isso, até porque sou inconsistente em relação a muitas coisas. Talvez a única consistência da natureza humana seja a natureza humana ser inconsistente... Mas enfim, quanto a este poema escolhi-o há já algum tempo, tal como disse antes quando decidi desfazer-me dos meus livros de Fernando Pessoa. Este livro em particular de Álvaro de Campos, assim como o de Ricardo Reis, lembro-me vivamente de o ter comprado quando estava no primeiro ano da universidade, numa tarde de chuva quando depois da aula fui a uma livraria com um amigo. Já não penso muito nesse meu amigo, tenho só uma vaga ideia do que é feito dele. Só sei, porque não posso senão saber, que entretanto aconteceram muitas mais coisas na vida dele do que na minha, e por isso a memória...

A Minha Interpretação Pessoal de “Se Eu Morrer Novo” de Alberto Caeiro

Em continuação com o artigo anterior, que foi o meu décimo primeiro artigo sobre Fernando Pessoa aqui neste blogue, continuo agora com Alberto Caeiro. E querendo fazer disto uma coisa sequencial acho que não me apetece muito escrever introduções genéricas de cada vez, e apetece-me antes escrever assim, como que de improviso... Até porque já não estou na escola, não faço isto como trabalho de casa, não estou à espera de receber uma avaliação nem de impressionar uma professora. Só estou à espera de escrever só mesmo porque sim, como que para relembrar e quase que para celebrar, agora que já não tenho os mesmos livros de Fernando Pessoa e já nem sequer estou na escola. E quanto a isso talvez o pensamento ocorre-me porque esta coleção de livros em particular, daquele heterónimo que Pessoa considerava o mestre, adquiri-o mesmo antes de começar a universidade, talvez duas ou três semanas antes, e por isso é que eu agora aqui, tão incapaz de pensar numa introdução para este artigo, não penso...

A Minha Interpretação Pessoal de “Ó Sino da Minha Aldeia” de Fernando Pessoa

Escrevi dez artigos sobre o Fernando Pessoa, assim como os seus heterónimos, aqui neste blogue. Escrevi-os porque ainda tinha umas coleções dos seus poemas aqui na minha estante, e portanto achei engraçado folhear e dar uma vista d'olhos pelos meus apontamentos em busca de qualquer coisa para ver o que me vinha à memória com cada página. Nesse sentido sempre foi engraçado, como muitas vezes é, encontrar coisas que já não me recordava de ter escrito, e na tinta de uma caneta que já há muito secou e da qual já me desfiz... E escrevo isto agora porque de uma forma que sempre me fez sentido, a partir de um minimalismo qualquer que às vezes tenho vontade de praticar, a partir de um impulso ao qual não resisti hoje obedecer, também já me desfiz dos livros... Não sei bem porquê, não sei se é sonho, se realidade, mas achei por bem fazê-lo, talvez porque associo aos objetos memórias específicas, e quando vejo que já passou a fase da minha vida à qual as associei, o objeto em si deixa de f...

A Minha Interpretação Pessoal do Trecho 100 do “Livro do Desassossego” de Bernardo Soares

Ler Fernando Pessoa tem obrigatoriamente de incluir o Livro do Desassossego. Isso foi algo que aprendi na reta final do meu ensino secundário, com uma professora cujo nome e cara já nem me recordo. Recordo-me apenas de que ela referiu este livro muito de passagem mas com muitos elogios. Uns meses depois pedi uma cópia dele como presente de natal, e então passei grande parte do meu ano sabático antes do início da universidade a lê-lo, um texto de cada vez, muitas vezes sentado na estação do metro à espera de amigos. E foi com este livro que decidi que queria ser escritor, por isso aqui estou eu, a tentar sê-lo. Eventualmente desfiz-me da minha cópia original simplesmente por uma questão de conveniência, porque deixei de ser sentimental para com as coisas, mas tendo relido uma segunda cópia uns anos mais tarde enchia-a também ela de sublinhados e apontamentos. Recentemente, ao folhear pelas páginas fui procurando por parágrafos com mais marcas, e como sempre acontece já não me lembrava ...

A Minha Interpretação Pessoal de “A Palidez do Dia” de Ricardo Reis

Este poema também foi fácil de escolher, mas não necessariamente pela beleza dos versos em si. Desta vez escolhi-o simplesmente porque a terceira estrofe trouxe-me um momento proustiano, ressuscitou-me uma memória há muito perdida mas nunca completamente esquecida. E como além de meramente escrever aquilo que me vai na cabeça também ocasionalmente escrevo para relembrar, posso dizer que a missão foi cumprida. Na verdade toda a poesia de Fernando Pessoa, e talvez toda a poesia em geral, funciona um bocadinho assim, ou seja, é muito fácil esquecer os versos, mas sempre que regressamos a eles, até mesmo vários anos depois, somos relembrados de tudo imediatamente, num só momento que enche uma fração de segundo com mais memórias do que cabem em dez anos... Quanto a mim não passaram dez anos desde a última vez que visitei este poema, mas por acaso passaram sete. Isso até custa dizer, custa acreditar que passou assim tanto tempo... Escrevi dez na frase anterior só por soar bem usar um número...

A Minha Interpretação Pessoal de “Saí do Comboio” de Álvaro de Campos

Este poema, tal como o anterior que escrevi da autoria deste mesmo poeta, foi dos mais fáceis de escolher. E isso fez-me chegar a duas conclusões – a primeira é de que este heterónimo é, pelo menos a meu ver e pelo menos agora, o melhor de todos, e a segunda é de que ele é o mais próximo do próprio Fernando Pessoa, talvez às vezes é até quase que indistinguível. Custa-me acreditar que versos como estes estejam distanciados do homem real por uma personalidade inteira, ou que essa personalidade seja tão completamente fraturada da realidade. Na verdade às vezes ignoro ligeiramente a questão da heteronímia, reduzindo-a à indecisão filosófica do poeta, mas não considero essa redução num sentido de todo pejorativo. O que acho que estou a tentar dizer é que quando Álvaro de Campos entra na sua fase decadentista faz-me sempre lembrar as melhores páginas do Livro do Desassossego, até a ponto de me fazer confundir os versos de um com as páginas do outro. E quanto a este poema, que escolhi preci...