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A Minha Interpretação Pessoal de “Saí do Comboio” de Álvaro de Campos

Este poema, tal como o anterior que escrevi da autoria deste mesmo poeta, foi dos mais fáceis de escolher. E isso fez-me chegar a duas conclusões – a primeira é de que este heterónimo é, pelo menos a meu ver e pelo menos agora, o melhor de todos, e a segunda é de que ele é o mais próximo do próprio Fernando Pessoa, talvez às vezes é até quase que indistinguível. Custa-me acreditar que versos como estes estejam distanciados do homem real por uma personalidade inteira, ou que essa personalidade seja tão completamente fraturada da realidade. Na verdade às vezes ignoro ligeiramente a questão da heteronímia, reduzindo-a à indecisão filosófica do poeta, mas não considero essa redução num sentido de todo pejorativo. O que acho que estou a tentar dizer é que quando Álvaro de Campos entra na sua fase decadentista faz-me sempre lembrar as melhores páginas do Livro do Desassossego, até a ponto de me fazer confundir os versos de um com as páginas do outro. E quanto a este poema, que escolhi precisamente por me fazer lembrar algumas páginas desse livro, posso agora dizer que me arrependo de não ter memória dele. Só sei que já o tinha lido porque em tempos o enchi com sublinhados, mas infelizmente não me lembro de me lembrar destes versos numa altura da minha vida em que tantas vezes eu saía do comboio e pensava nesse tão insignificante gesto quotidiano como a coisa mais importante, ou mais triste, da minha vida. E como não mais mais metafísica no mundo exceto sair do comboio, ou do metro, ou do que comer chocolates, debruço-me agora sobre estes versos cheios da memória de companheiros de viagem que nunca esqueci.


Saí do comboio,
Disse adeus ao companheiro de viagem,
Tínhamos estado dezoito horas juntos.
A conversa agradável,
A fraternidade da viagem,
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.
Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...
Toda despedida é uma morte...
Sim, toda despedida é uma morte.
Nós, no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.

Este poema começa pelo fim. O primeiro verso descreve o final da viagem, o fim da odisseia e o iminente regresso a Ítaca. Só que embora isso deva ser sempre um momento feliz não o é aqui, e aliás, na nossa vida quotidiana é raro que assim seja. Quanto a mim nunca gostei muito de sair de casa para viajar em direção a outros lugares. Apanhar o metro em direção à universidade foi-me muitas vezes cansativo, e muitas vezes, mas nem sempre, deu-me sensações de pressa e de ansiedade, de querer chegar rápido e sem complicações. Mas a viagem de regresso é sempre diferente por natureza. O regresso sempre gostei de fazer devagar, muitas vezes fui pelo caminho mais longo de propósito, ou saí numa paragem que não a minha para esperar pelo metro seguinte, ou andei a passo lento só para ver se me acontecia qualquer coisa pelo caminho. Mesmo que nunca tenha ido por caminhos muito estranhos, sempre me deixei perder pelos meus pensamentos com cada passo, e também sempre fiquei um bocadinho triste, até no final de um dia bom. Porque toda a despedida é mesmo uma morte, morremos todos os dias e a todos os momentos. Aprendemos que cada boa memória passa e não mais volta, e por isso a nostalgia é um funeral constante. O ato de dizer adeus àqueles com quem viajamos, um ato tão casual como a conversa amena com a qual enchemos o silêncio da viagem, é ressuscitado na memória como um dos momentos mais significantes da nossa vida. Esses estranhos que podem ser amizades perfeitas ou paixões de nunca, estranhos cujo aparecer repentino é uma autêntica impossibilidade estatística, e cujo desaparecer perpétuo é uma morte da qual nunca recuperamos... Por entre tudo isto está a tristeza de que uma viagem, por muito pequena e insignificante, é um dia em que morremos algures pelo caminho, não tão diferente de uma odisseia pelo mar, sendo que até o poeta pensa assim, ao deliberadamente confundir uma viagem de comboio com uma embarcação e com o marejar de lágrimas quando, ao virar as costas ao comboio do qual saímos, vemos que ele prossegue pelo mar fora.

Tudo que é humano me comove, porque sou homem.
Tudo me comove, porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.

O que sempre se fala sobre Fernando Pessoa e os seus respetivos heterónimos é a incapacidade de sentir, mas o que se fala em Álvaro de Campos é o exato oposto, é o sentir tudo de todas as maneiras. Nesta estrofe vemos precisamente isso, vemos aliás um sentir que vai além do imediato, além do proverbial amar o próximo e muito além do meramente racional. Porque este poeta, pelo menos neste dia muito mais pacífico, especialmente comparado com a sua fase futurista marcada por um amor surreal pelas máquinas e o barulho e a confusão, sentiu tudo não num sentido racional e intelectual, mas sim num sentido tão completo e abrangente que chega e sobra para toda a humanidade. Não é por ser inteligente ou poeta ou filósofo que ele sente, que se deixa comover pela inerente qualidade de tudo aquilo que é humano, mas é simplesmente o ato de se deixar comover pela humanidade na sua forma mais simples, nas suas idiossincrasias de todos os dias, como por exemplo conversar com um estranho durante uma viagem de comboio, um estranho cujo nome nem se sequer chegamos a descobrir mas não interessa porque ele faz parte de nós por fazer parte da humanidade. Neste dia, nesta antiga e distante memória de uma viagem de comboio, amar o próximo foi muito mais do que possível – foi real. E o marejar de lágrimas nos olhos do poeta é um transbordar do amor que ele tem pela humanidade.

A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a não tratavam muito bem...

Esta estrofe é mais uma daquelas que não consigo deixar de ver como reais, como positivamente biográficas. Algo me diz que esta criada foi alguém por quem o poeta passou na rua e, talvez mesmo sem a conhecer, ouviu parte de uma conversa que ela teve, ou adivinhou-lhe a vida pelos gestos e a tristeza pelos olhos, e soube que ela chorava por saudades de um tempo que nem sequer lhe foi particularmente bom. E esse é um outro tema recorrente, talvez não tanto na poesia deste poeta mas na nostalgia de toda a gente, ou pelo menos para mim posso dizer que me é recorrente nunca gostar de onde estou estou, nem de com quem, nem do que estou a fazer, nem de como a minha vida é presentemente em todos os presentes. Mas depois do fim de qualquer uma dessas fases, dessas circunstâncias, desses detalhes, quando tudo é agora passado, fico-me sempre pela ideia de que não aproveitei, de que não me senti gostar daquilo que devia ter gostado, de algo na minha vida que simplesmente valeu a pena que me tivesse acontecido. Talvez porque a vida são todos os dias, e até os dias maus serão um dia parte de um passado nostálgico, um passado sem o qual a nossa identidade não faz qualquer sentido. Então choramos de saudade por tudo e nunca nada nos deixa para sempre. O passado há de ser sempre um lugar tão confortável como é impossível.

Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo.
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.

E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.

Se o isso a que o poeta aqui se refere for a saudade então temos a forma mais pessimista que alguém alguma vez teve de a descrever. Mas não, talvez não seja meramente a saudade, talvez o isso seja todo o acontecer do mundo em todo o seu detalhe. No entanto, se assim for não nos resolve muito porque ainda temos o poeta a considerar que tudo o que acontece na sua minúcia, todas as viagens de comboio, todas as conversas com estranhos, todas as pessoas que passam na rua com todos os pensamentos que lhes passam pelas cabeças, tudo isso é para ele a morte e tristeza do mundo, é uma constante despedida que por sua vez é uma morte... Só que talvez isso não seja inteiramente mau, talvez seja apenas uma parte do mundo, uma parte sem a qual a parte boa não pode existir. Sendo assim, temos aqui o poeta a guardar todas essas partes, todos os detalhes, a falar-nos de todas as coisas, a guardar o mundo inteiro no seu coração e a mantê-lo vivo pelo simples ato de presenciar e de nunca mais esquecer. Aqui temos um poeta que sente tudo de todas as maneiras, mas desta vez não em violência, não em desespero, mas sim numa simples aceitação da sua própria existência no mundo. Porque no fim desta viagem de comboio ele sentiu-se como uma parte inerente do mundo, como o centro dele mesmo que ninguém o tenha visto ali, mesmo que ninguém tenha pensado nele com a mesma melancolia com a qual ele pensou em todos os outros à sua volta. E se isso parece impossível é porque o coração deste poeta é maior do que o mundo e tudo o que nele existe, mas só um bocadinho... A capacidade de amar toda a humanidade e a capacidade de amar quem quer que seja são conceitos em perpétua oposição, aliás, existem numa oposição aritmética que não pode ser senão impossível, mas não devia ser assim. E se aquela sensação ao peito quando o coração nos parece crescer for mesmo real então tudo o resto também deve ser...

Este é então um poema perfeito, escrito por um heterónimo cujos poemas têm este estranho talento de serem ou tão bizarros e confusos, ou tão eloquentes e cheios de uma profundidade decididamente humana. Para mim isso faz de Campos o heterónimo mais interessante e complexo, ainda que também aquele mais Pessoa. E digo isso por causa desta sensação tão universal na literatura pessoana, esta coisa de descobrir em versos tão breves sensações que já tantas vezes sentimos mas que nunca conseguimos capturar, nem em verso nem em prosa nem em nada. E eu que muitas vezes o tentei fazer sinto que sempre fiquei muito aquém, sinto que nunca descrevi as minhas breves viagens de comboio, ou de metro para ser mais específico, com a eloquência que lhes era devida, e sinto que nunca ninguém poderá ler algo que escrevi sobre elas e sentir o mesmo que este poeta sentiu e que deixou transparecer tão completamente nos seus versos. Então perco-me a imaginar este homem a vaguear pelas ruas de Lisboa, a escrever os versos pelo caminho e a deixar que ao virar de cada esquina o novo horizonte lhe traga a estrofe seguinte, até que finalmente chega a casa e se senta a escrever sobre esse dia que, mesmo que não tenha ficado datado, fica relembrado para sempre. E em tudo isto há os verdadeiros protagonistas, as pessoas sem nome a quem as leis da circunstância ditaram que conhecessem o poeta naquele dia, que se cruzassem com ele naquele preciso momento. Trata-se então de uma espécie de paradoxo porque em termos de probabilidades essas circunstâncias parecem impossíveis de acontecer, mas aconteceram porque tinham de acontecer a alguém, talvez muito como a humanidade em si... Pensando assim ocorre-me que talvez a humanidade não seja tão contingente assim, e que o coração da humanidade seja muito maior do que o universo inteiro.

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