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“Aparição” Desapareceu da Minha Lista de Livros Favoritos

Feliz ou infelizmente, acontece-me muitas vezes deixar de gostar de qualquer coisa que em tempos adorei. Filmes, séries, músicas, e neste caso, livros. No meu secundário fizemos uma visita de estudo a Évora a propósito deste livro de Vergílio Ferreira, uma visita que eu adorei ainda que não por motivos minimamente académicos, até porque ainda não tinha lido uma única página disto. Mais tarde, no primeiro ano de universidade decidi comprar e ler Aparição, e fi-lo quase que viciado, abrindo o livro só para ler umas dez ou quinze páginas mas acabando por perder noção do tempo e das páginas. Numa palavra, adorei, e mais tarde quando fui gradualmente desfazendo a minha coleção de livros, este foi um daqueles que sobreviveu quase todas as eliminatórias. Eventualmente foi-se, até que estes dias fiquei com vontade de reler e até de comprar uma cópia nova para a tratar com um certo respeito. Mas ainda bem que não o fiz, porque tendo agora acabado de reler, fico em parte desapontado, e noutra parte fico um bocadinho estupefacto por não compreender como é que gostei assim tanto do livro pela primeira vez.

A Victória Guerra é muito bonita, muito mais do que este livro

O mais difícil disto tudo é criticar Vergílio Ferreira sem parecer inconsistente, hipócrita, ou até mesmo invejoso. Isto porque alguns aspetos da minha escrita, e principalmente o meu segundo livro, têm ecos de parte daquilo que se encontra em Aparição, essencialmente no que diz respeito ao existencialismo e esta coisa de nos apercebermos como seres conscientes neste mundo, como se às vezes uma sensação de mindfulness nos possuísse e nos garantisse um entendimento do mundo tal como ele é, como se cada detalhe insignificante fosse na verdade fonte de uma beleza impossível. No entanto, a dificuldade disto é que é uma coisa simples e complexa ao mesmo tempo, é melhor comunicada na sensação do que nas palavras, que o próprio Vergílio Ferreira chama de pedras. Sendo assim, as páginas dele rapidamente se tornam repetitivas. O livro não é tão longo quanto isso, e para todos os efeitos está bem escrito, mas não sei se são necessárias duzentas páginas de pedras para explicar uma coisa que fica bem assente logo no prólogo.

Ah, ter a evidência ácida do milagre que sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois, em fulgor, que tenho de morrer. A minha presença de mim a mim próprio e a tudo o que me cerca é de dentro de mim que a sei - não do olhar dos outros. Os astros, a Terra, esta sala, são uma realidade, existem, mas é através de mim que se instalam em vida: a minha morte é o nada de tudo.

Este prólogo desde já marca aqueles traços filosóficos nos quais todo o livro se insere, e não é sem eloquência que Vergílio Ferreira descreve estas sensações de existência e de escala. Só que depois de sentir que estamos a ler sempre a mesma coisa entramos num modo mais analítico e tentamos perceber a sério o que está a ser dito. Aí é quando, pelo menos recentemente, fiquei-me pela ideia de que muitas destas frases são metáforas bonitas sem muito significado, ou na pior das hipóteses são mesmo vazias e pretensiosas. Uma marca preocupante disso vem também no prólogo, ainda antes da passagem acima citada, quando a ideia de “minha verdade” surge para ser repetida uma ou outra vez ao longo do livro. Tanto quanto sei, atribuir um determinante possessivo ao conceito de verdade não é muito mais do que fazer do subjetivismo uma arrogância tremenda. E isso até pode ser interessante em algumas obras, se e só se as personagens forem interessantes também, o que não acho que aconteça aqui. As personagens são essencialmente indistinguíveis na prática. Podem ter os seus detalhes idiossincráticos, como o irmão agricultor, a criança pianista, a jovem rebelde, a esposa quase adúltera, o virgem frustrado, mas na verdade todos estes traços acabam por ser mais superficiais do que parecem. São caixas nas quais as personagens se inserem, e depois no decorrer do livro confundem-se todas umas com as outras. Arrisco-me a dizer que é quase impossível ler uma fala sem muito contexto e atribuir a um falante específico, até mesmo com as frases mais importantes de todo o livro. Isto porque as personagens não se repercutem significativamente na história, não têm espaço para agir fora dos limites traçados pelo autor, que é essencialmente o protagonista, e também ele desinteressante.

Este Alberto Soares parece-me ter os piores aspetos do protagonista de Em Busca do Tempo Perdido sem os aspetos que fazem dessa obra uma das melhores de sempre. Ele é desinteressante, arrogante, triste, parece agir com desprezo por tudo e todos, e narra a história desde o início como se recordasse a melhor história nunca antes contada, como se Évora em 1959 fosse o centro do universo, e ele próprio o centro de Évora. É esta coisa constante de ele ser um personagem que, de forma algo inexplicável, é imediatamente alvo de interesse profundo de toda a gente, mas também alvo de um antagonismo igualmente inexplicável, sendo que a personagem central, Sofia, tem por ele as duas coisas em grande medida. Pessoalmente, considero este traço como algo recorrente nas piores histórias, até mesmo histórias amadoras nas quais o autor se insere como a criatura mais relevante do mundo, despoletando todo o tipo de reações fortes em torno de tudo aquilo que ele faz ou meramente é. Para todos os efeitos, parece-me masturbatório. E se me disserem que muitos livros também o são eu até concordo, mas quando resulta, resulta bem. Aqui nem por isso.

Incidentalmente, quando falo de escala falo a propósito de uma noção que considero sempre essencial em qualquer obra. Designa essencialmente o nível de resolução no qual a história decorre. É uma história sobre um grupo de pessoas numa pequena cidade, ou é uma história sobre uma guerra entre nações que vai decidir o futuro da humanidade? Costumo favorecer histórias de escala mais reduzida, mas isso depende da preferência e das qualidades do autor. Quanto a esta obra acho que as coisas ficam meio perdidas. Algumas descrições parecem tentar alargar a escala muito além daquilo que acontece, quase a nível cósmico, mas na prática não vemos muito mais do que personagens arrogantes a passar os dias e a almoçar e a falar de coisas que filósofos a sério hesitam em chamar de filosofia. Num dado momento temos o protagonista cheio de ciúmes e drama e tudo mais, no outro momento ele está a admirar o céu noturno e a falar à sua Sofia sobre todas as estrelas e planetas e galáxias. Não sei, mais arrogante é difícil... Não é que esteja mal-mal, não é que esteja errado, mas para escrever este tipo de coisa é preciso gostar bem das personagens, o que dificilmente acontece aqui. Ficaria muito surpreendido se alguém me dissesse que Alberto Soares ou Sofia ou Carolino são algumas das suas personagens favoritas em toda a ficção.

Outra dificuldade é dizer se toda a gente em Évora já se debatia com estas questões existenciais ou se só o fizeram quando o protagonista lá chegou. Parece uma diferença irrelevante mas é digno de nota que, tanto quanto consigo averiguar, todas as personagens neste livro são filósofos psicanalistas, passam a vida a entreter-se ou a torturar-se com estas questões, sempre em almoços, lanches e jantares boémios e, claro está, pretensiosos. E quando a conversa não é pretensiosa, ou quando uma personagem não é bem capaz de acompanhar, ou quando nem sequer é minimamente académica, tal como o senhor do comboio, é logo tratada com algum desprezo. E isso é outra coisa estranha... Como o protagonista também é narrador mas narra vários anos depois, ele fá-lo com uma espécie de omnisciência, sendo isto justamente uma característica do livro que faz de todas as personagens meros porta-voz para o protagonista. Ninguém pode falar por si mesmo, é ele que fala por toda a gente, e como ele é a melhor criatura de sempre, superando até Deus, é ele que decide.

Foi porque Deus se me gastou. Sei só que não está certo que ele viva. Sei que ele é absurdo porque o é. Sei que ele está morto, porque não cabe na harmonia do que sou. Não cabe.

Enfim... Um aspeto interessante dessa narração posterior, e que deve ter acontecido em alguns casos, seria se no decorrer da história o narrador se reconhecesse errado ou arrependido, desejando a chance de voltar atrás, reencontrar essas pessoas e reconciliar de alguma forma. Mas isso parece acontecer pouco ou nada, ou então se acontece várias vezes eu não me apercebi nesta minha leitura recente. Parece que o protagonista vence todos os debates, ou quando perde é só porque o seu adversário se mantém inexorável na sua posição, recusando-se a mudar mesmo contra a lógica imparável do protagonista. No fundo, este tipo nunca é apanhado despercebido, é tão intelectual e culto que está constantemente a ser convidado para eventos, mesmo por pessoas que não gostam dele, e durante essas conversas filosóficas que ele tanto domina é-lhe frequente quebrar a narração para falar diretamente à personagem, como por exemplo,

No vasto ressoar das águas verdes, aqui, do alto da falésia, do limite da inquietação, quando nada mais resta do que partir, aqui, frente aos ventos salgados, frente à montanha muda, lavada ao perfume angustiante da germinação, ouço-te ainda Cristina. Fica um pouco.

Eu olhava-o: sim. As palavras são pedras, Carolino; o que nelas vive é o espírito que por elas passa.

O primeiro exemplo é o que é, sendo essa personagem constantemente referida como uma espécie de deusa inocente e fonte de toda a inspiração do protagonista, quando na verdade não parece ser mais do que uma personagem criada apenas para ser uni-dimensional e para morrer no fim, porque caso contrário as outras personagens alegadamente mais interessantes não teriam como se desenvolver. Na cama do hospital ela parece tocar um piano imaginário, algo que só o protagonista presencia porque ele é a criatura mais importante do universo. Agora, o segundo exemplo é para mim emblemático do tipo de filosofia de escritores como o Vergílio Ferreira. O que é que se quer dizer exatamente com essa frase? O que significa as palavras serem pedras? O que é exatamente o espírito? O que é que significa esse tal espírito passar por uma palavra?... Nunca fui grande coisa a filosofia da linguagem, mas talvez num sentido imediato se possa dizer que as palavras são construções para capturar o significado de coisas no mundo e que às vezes essas construções podem ser rígidas, mas o que é verdadeiramente relevante é o sentido por detrás de cada uma delas que permite a comunicação. Mas se é só algo assim que o autor quer dizer, então porque não dizê-lo? Talvez porque não seria tão bonito assim, mas é o que é, o livro é mesmo isto – coisas simples ditas de forma bonita que por ser bonita parece complexa, sendo que só parece complexa para esconder que é simples.

Incidentalmente, esse segundo exemplo surge num confronto em que o mans Carolino saca duma naifa e tenta chinar o protag. Mas ele é main mans Rambo Norris Arnie e consegue desarmá-lo sem grande cena, para depois se sentar a fumar um cigarro filosófico pa caralho.

Agora, sobre a escrita ser bonita vale a pena deixar uma nota breve. Não sei até que ponto é uma coisa minha achar algumas palavras da minha língua materna genuinamente desagradáveis, algo que até ouvi repetido por outras pessoas, portuguesas ou não, que preferem de alguma forma a naturalidade da língua inglesa. Seja como for, parece-me um tema recorrente como Vergílio Ferreira muitas vezes não se preocupa com palavras feias. Correndo o risco de ofender alguns leitores, não acho que Alberto, Alfredo, Carolino, Chico, e Evaristo sejam nomes por aí além. Mas enfim, isso sou eu a ser esquisito. Mais esquisito ainda é a confiança com a qual Vergílio Ferreira escreve coisas como – Ouço de novo no meu quarto a buzina metálica do seu carro, berrando para todo o pátio com espalhafato. Não sei se sou só eu mas acho que há formas mais bonitas de dizer isso, há palavras que simplesmente não servem. Depois há também outros traços estranhos que me deixaram confuso, como “o verão chegou à cidade como uma explosão” para uma ou duas páginas depois escrever “o verão chegara como um vulcão.”

Talvez esteja eu agora a ser injusto com o autor, e até um bocadinho invejoso. Não vou negar a segunda acusação porque tanto quanto sei até é mesmo verdade, mas penso que posso facilmente negar a segunda, primeiro porque o próprio autor não consegue resistir dizer coisas bonitas que para ele são do mais profundo que existe, e segundo porque ele parece mesmo rejeitar qualquer tipo de lógica ou de filosofia minimamente analítica.

Mas a arte não era para mim um mundo da letra impressa, uma estúpida invenção de passatempo ou de vaidade: era uma comunhão com a evidência, uma reencarnação na verdade de origens.

Toda a ideia vivida é do sangue, não do cérebro. Não há ideias estritamente racionais. Nem sequer talvez na tabuada.

Quanto a mim, nunca fui nem nunca quis ser um grande filósofo, mas sento-me aqui nesta sala vazia e relembro que há um motivo pelo qual os filósofos a sério não têm muito respeito por coisas destas. A linguagem pode ser floreada, um artista pode ser o quão críptico quiser, mas por baixo disso tudo a história tem de sobreviver por si só. A sensação com a qual fico agora é de que Aparição é uma mistura de romance e ensaio, mas como romance é desinteressante e pretensioso, e como ensaio é repetitivo, vazio, e também pretensioso. E agora no fim deste meu ensaio, que tanto quanto sei também é pretensioso, deixo sem grande contexto a passagem da obra que me fez estranhar tanto que acabei por ir a uma livraria folhear um cópia dela só para ter a certeza que a versão que li não tinha sido manipulada só porque sim.

O espaço esvazia-se até ao limiar da memória, onde alastra o meu cansaço, o afago quente de um choro, o aceno de sinais que se correspondem como ecos de um labirinto. Num oblíquo aviso afloro o que estremece sob os gestos enfim apaziguados. Évora, Évora. Para o meio da planície, uma inesperada toalha de água de represa lembra ao longe os poços do deserto. Uma ou outra casa branca, perdida na planura, descansa-me os olhos de vertigem da distância. Quedo-me longo tempo ao meu mirante, evoco, no vasto céu, o eco de um coral alentejano, essa voz para o deserto donde nunca se responde... Fecho a janela enfim, regresso à minha presença. Que busco na minha solidão? Chico acusa-me.

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