Às vezes, quando um sentimento de raiva se apodera de mim, imagino que surge na minha boca uma segunda boca que vem para me triturar os dentes todos, reduzindo-os a dez mil fragmentos que dão estalidos entre si com o ritmo de cada deslocação desse segundo maxilar estranho, e a minha língua é então dilacerada em pedaços de carne fria até se rebentar por completo, perfurada pela força implacável de uma mandíbula alheia, arrepiando-me com a pressão perpétua de mil esguichos de sangue que me arranham as gengivas, tudo para satisfazer a vontade de um outro ser dentro de mim... A minha língua é uma esponja velha, apertada com tanta violência depois de ter estado dormente num charco de águas verdes e estagnadas, durante uma eternidade mais dolorosa do que o próprio aperto. 14 de março de 2013 § ESTES DIAS ESCUROS DE CHUVA DE OUTONO Hoje pensei naquele que é o único problema da filosofia e não me consegui decidir. Não há nada que eu queira exceto tudo. Vejo mulheres no metro que usam lenços na...