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Showing posts from October, 2021

Excertos de “Nostos”

Às vezes, quando um sentimento de raiva se apodera de mim, imagino que surge na minha boca uma segunda boca que vem para me triturar os dentes todos, reduzindo-os a dez mil fragmentos que dão estalidos entre si com o ritmo de cada deslocação desse segundo maxilar estranho, e a minha língua é então dilacerada em pedaços de carne fria até se rebentar por completo, perfurada pela força implacável de uma mandíbula alheia, arrepiando-me com a pressão perpétua de mil esguichos de sangue que me arranham as gengivas, tudo para satisfazer a vontade de um outro ser dentro de mim... A minha língua é uma esponja velha, apertada com tanta violência depois de ter estado dormente num charco de águas verdes e estagnadas, durante uma eternidade mais dolorosa do que o próprio aperto. 14 de março de 2013 § ESTES DIAS ESCUROS DE CHUVA DE OUTONO Hoje pensei naquele que é o único problema da filosofia e não me consegui decidir. Não há nada que eu queira exceto tudo. Vejo mulheres no metro que usam lenços na...

Uma Análise da Sinopse de “Nostos”

Uma coleção de quatrocentos textos soltos, vinte e um deles em inglês, escritos ao longo de oito anos e perfazendo um livro de memórias, de ensaios e de ficção, com o objetivo final, mas sempre incerto, de encontrar não só um tempo perdido, mas também um lugar. Tal como escrevi uma análise assim da sinopse do meu primeiro livro, e também do meu segundo livro, escrevo agora algo semelhante sobre o meu terceiro. Para recapitular muito brevemente, não sou fã de sinopses longas, acho que uma sinopse que conta a história até certo ponto faz com que a leitura até esse mesmo ponto seja quase redundante. E hesito também em responder à questão comum – mas o teu livro é sobre o quê mesmo?... Acho que não faz muito sentido responder em detalhe, tento sempre escrever de forma a surpreender os meus leitores, de forma a que cada capítulo tenha o seu próprio estilo e as suas reviravoltas, por isso quanto menos o leitor souber, melhor. No entanto, para este meu terceiro livro uma sinopse detalhada ...

I Didn't Even Know Norm Macdonald Was Sick...

Seriously, I really didn't... It would appear that Norm, in typical Norm fashion, kept his illness very well-hidden, perhaps to avoid all those common platitudes that at best are vain, and at worst they're just dark voids where comedy goes to die. In a way it's almost as if he made his own death into a joke, what with his weird style of saying the most wicked things in such a blunt way that people couldn't help but laugh as a way to release the tension. I have heard it said, and wish I had been the one to come up with it, that Norm was the comedian that, not only willingly confronted the elephant in the room, but he actively hunted it down. Indeed, Norm's comedy style was often as blunt and as brash as an elephant rifle, and yet he was often at times so subtle you needed some deep soul-searching and a degree from the University of Science in order to understand it. In another saying that I also wish I had been the one to come up with, it was almost as if Norm was do...